Apesar da isenção parcial anunciada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 30 de julho, que prorrogou até 6 de agosto o tarifaço de 50% sobre alguns produtos brasileiros, o cenário continua sendo motivo de preocupação para setores importantes da economia de Santa Catarina. A medida trouxe certo alívio para segmentos como o de madeira, mas ainda afeta diretamente cerca de 40% das exportações catarinenses — especialmente os setores com alta intensidade tecnológica.
A Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) manifestou preocupação com a limitação da medida e reforçou a necessidade de uma negociação mais ampla e estratégica entre Brasil e Estados Unidos. Para a entidade, o atual modelo de negociação não contempla a diversidade e complexidade da economia catarinense, que é marcada por forte presença de micro, pequenas e médias empresas e setores industriais de alto valor agregado.
“As negociações com os EUA precisam favorecer, tranquilizar e incentivar todo o Brasil e vários setores ao mesmo tempo, desde o pequeno até o grande empresário, pois todos são importantes para a geração de emprego e renda da economia e vêm sofrendo com o cenário de incerteza fiscal e geopolítica no país”, afirmou o presidente da Facisc, Elson Otto.
Santa Catarina é referência nacional em segmentos industriais de base tecnológica, como a produção de iates de luxo, turbinas hidráulicas e partes de motor — todos com forte presença no mercado norte-americano. O setor náutico, por exemplo, lidera a produção nacional e destina cerca de 50% da sua produção para os EUA. Com o tarifaço, regiões como o Vale do Itajaí e a Grande Florianópolis, onde se concentram essas indústrias, podem sofrer impactos significativos.
Outro exemplo são os setores de bens industriais no Oeste e Norte do estado, cujas exportações de turbinas e componentes mecânicos também têm os EUA como principal destino. Com a concorrência de países com tarifas mais baixas, a competitividade de Santa Catarina fica em desvantagem. “Se não pensarmos em uma política que contemple outros setores, o processo de internacionalização da economia catarinense pode ser prejudicado”, reforçou Otto.
Mesmo com a flexibilização parcial para o agronegócio, vários produtos ainda enfrentam barreiras tarifárias. É o caso da produção de peixes congelados, especialmente nas regiões do Sul e Vale do Itajaí, e do mel no Extremo Sul do estado — cerca de 80% do mel catarinense é exportado para os EUA.
O setor moveleiro também continua vulnerável: 46% das exportações de móveis catarinenses têm como destino o mercado norte-americano. A Facisc destaca que esses segmentos ainda não foram beneficiados pelas isenções e seguem pressionados pelas tarifas elevadas.
A Facisc segue atuando junto às instâncias nacionais e internacionais para garantir que as negociações bilaterais entre Brasil e EUA levem em conta a pluralidade da economia catarinense. A entidade defende uma estratégia que assegure a manutenção de empregos, incentive o crescimento sustentável e fortaleça a presença de Santa Catarina no comércio internacional.
“Não se trata apenas de proteger um ou outro setor, mas de assegurar que toda a engrenagem produtiva do estado continue girando, com segurança jurídica, previsibilidade e condições justas de competitividade no mercado global”, concluiu o presidente da Facisc.